domingo, 9 de agosto de 2009

LIBERDADE, CONSCIÊNCIA E PRAZER!


Por Tiago Haka
Quando a AIDS explodiu nos noticiários, na década de 80, acreditava-se que apenas homossexuais e usuários de drogas estavam na mira. Durante esses vinte e nove anos, mesmo de forma velada, os homens casados que procuravam relacionamentos homossexuais aprenderam a se proteger. Fizeram a coisa certa. Mas os que buscaram relacionamentos com mulheres cometeram um erro fatal. Acreditando que estavam fora de perigo, não se preservaram em fazer sexo fora do casamento. Uma derrapada feia, baseada numa visão estreita do assunto, está custando à vida deles — e de suas mulheres também. As estatísticas do governo mostram que a AIDS esta sobre razoável controle no que diz respeito às relações homossexuais e bissexuais, mas cresce entre os heterossexuais e atinge como nunca mulheres casadas, muitas fiéis aos maridos que as contaminaram. Elas se julgaram protegidas pelo casamento. Fecharam os olhos às traições e aos riscos.
Você vai conhecer a história do jovem que deixou o perigo falar mais alto que a razão e infelizmente se contaminou pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, o vírus da AIDS.
Hugo*, um sujeito alto, de olhos verdes, porte atlético e de muito bom aspecto. Um homem de grande autoconfiança e extrovertido, ele não teve nenhuma dificuldade em arrumar uma porção de companheiros de cama. Estudante, 25 anos, Hugo vivia na casa de seus pais, num condomínio residencial em Brasília, levando uma vida inteiramente convencional de um homem jovem, com interesses artísticos e sem grande ambição econômica. Ele procurou um hospital em fevereiro porque sentia dificuldades em respirar e o peito parecia estar “oprimido”.
“Eles me internaram na mesma hora e, depois de fazerem uma porção de exames, me contaram que eu estava com AIDS. Fiquei extremamente surpreso. Eu já tinha feito teste para anticorpos contra o vírus da AIDS por duas vezes e em ambos os resultados haviam sido negativos. Resolvi na mesma hora que precisava contar para os meus pais. Os médicos e as enfermeiras disseram que se eu os quisesse dariam a notícia aos velhos – e até que, se eu assim decidisse, não precisaria contar nada. Mas eu achei que eles precisavam saber – e que eu mesmo devia dar a notícia”.
“meus pais vieram me visitar lá pelas três da tarde. Minha mãe ficou em volta da minha cama, com um buquê de flores e uma caixa de bombons. Pedi para que ela se sentasse ao lado do meu pai, que já estava na cadeira. Eu tinha ensaiado a manhã inteira a cena; falei para eles que eu estava com AIDS, que eu tinha no máximo mais dois anos de vida e que pedia desculpas a eles por deixá-los numa situação que certamente seria muito penosa para os dois.”
“Minha mãe continuou conversando comigo, mas papai virou a cara para o outro lado e vi, pelo espelho, que ele estava chorando. Nunca havia o visto ele chorando antes – fiquei arrasado. Mamãe também começou a chorar. Achei melhor mandar os dois embora do quarto, já que estavam tão abalados, e aí eu também cai em prantos. Que coisa horrível! Todas as dores que eu estava sofrendo não eram nada frente ao que meus pais estavam sofrendo” .
Hugo não entende por que contraiu a doença. Nunca foi promíscuo como alguns de seus amigos – a não ser quando assumiu a homossexualidade, lá pelos seus 19 anos. Nessa época, andou tendo em algumas fases dois ou três parceiros diferentes por semana, num curto período de uns dois ou três meses. Após esta fase, passou a ter uma relação estável e monogâmica com um cara mais velho e muito distinto. Hugo acha que pegou AIDS dele. Seu parceiro jurava que era fiel, mas Hugo diz que ele era um mentiroso terrível. Eles até tentaram abri um negócio juntos, na qual Hugo pôs um bocado de dinheiro, mas acabaram se desentendendo, a loja não foi em frente e no fim acabaram se separando de vez.
Hugo nunca mais foi promíscuo, e seis meses antes de ser diagnosticado como doente de AIDS havia notado uma falta total de interesse sexual — um fato comum nas fases iniciais da doença. “Agora estou completamente casto”, brinca Hugo.
Hoje ele quer fazer uma viagem para Fernando de Noronha, porque “se eu não for agora, posso bater as botas antes de ter outra chance”, brinca emocionado Hugo, com um sorriso simplesmente contagiante.
Hugo está resignado com sua doença. Além do mais, ele não acha válido ficar se culpando ou elocubrando a respeito de coisa sobre as quais ele não tem nenhuma possibilidade de ação: “Se acharem alguma coisa e acharem a cura, não tenho motivos para ficar me preocupando. E se não acharem, não vou estragar meus últimos dias de vida me lamentando”.

*Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.

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